Se você acompanha redes sem fio, já deve ter ouvido a expressão Wi-Fi 7. Mas o que isso significa na prática? Wi-Fi 7 é o nome comercial da tecnologia padronizada como IEEE 802.11be, também
chamada de EHT – Extremely High Throughput. Ela sucede o Wi-Fi 6 e 6E e foi desenhada para entregar maior taxa de dados, latência mais baixa e mais previsibilidade em ambientes cheios de dispositivos. Em resumo: é o passo seguinte para Wi-Fi em casas, empresas, educação e espaços públicos, usando as bandas de 2,4 GHz, 5 GHz e 6 GHz. (ieee802.org)Origem da tecnologia
O desenvolvimento do 802.11be começou a partir dos conhecimentos adquiridos da versão 802.11ax (Wi-Fi 6/6E), com foco em aumentar capacidade e reduzir atrasos, especialmente quando há muita concorrência pelo espectro da banda. Em 8 de janeiro de 2024, a entidade Wi-Fi Alliance lançou o programa Wi-Fi CERTIFIED 7™, acelerando a interoperabilidade entre fabricantes; e, em 22 de julho de 2025, o IEEE publicou oficialmente a norma IEEE Std 802.11be-2024 — que constitui a base técnica do Wi-Fi 7. Isso significa que estamos falando de uma tecnologia presente no mercado e com especificação consolidada. (GlobeNewswire, ieee802.org)
Diferenças em relação às gerações anteriores
A estratégia do Wi-Fi 7 é utilizar melhor o espectro e abrir mais caminhos para que dados cheguem ao destino com rapidez e estabilidade. Três pilares ajudam a entender isso:
Pilar 1: Canais mais largos com até 320 MHz na banda de 6 GHz (o dobro dos 160 MHz do Wi-Fi 6/6E). Canais mais largos significam mais capacidade por transmissão. (Cisco, Intel)
Pilar 2: Modulação 4096-QAM (4K-QAM)o que empacota mais bits por símbolo, rendendo ganho teórico de ~20% de throughput em relação à 1024-QAM do Wi-Fi 6. (Cisco, Cisco Meraki Documentation)
Pilar 3: MLO – Multi-Link Operation, talvez a melhor característica do Wi-Fi 7. Em vez de operar em uma única faixa por vez, um mesmo dispositivo pode usar simultaneamente dois ou mais links (ex.: 5 GHz + 6 GHz). Isso abre espaço para agregar throughput, desviar de interferências e reduzir latência trocando de link de forma dinâmica. É uma funcionalidade importante do 802.11be e peça-chave do ganho de experiência na prática. (Cisco Blogs)
Melhorias importantes
Além desses pilares, há melhorias importantes na eficiência do uso do canal:
-> MRU (Multiple Resource Units) e avanços em OFDMA-Orthogonal Frequency-Division Multiple Access: permitem alocar múltiplas "fatias" de frequência para um mesmo usuário, reduzindo desperdício e melhorando o aproveitamento do espectro.
-> Preamble Puncturing, o que significa se um pedaço do canal está com interferência, o rádio inutiliza apenas aquela parte e continua usando o restante do canal, em vez de descartar tudo.
Esses ajustes ajudam a manter a rede fluindo bem, mesmo com ruído e vizinhança densa. (Cisco, Cisco Meraki Documentation)
Há, ainda, tópicos avançados em discussão sobre o escopo, como por exemplo a coordenação entre múltiplos APs-access point para reduzir colisões e melhorar cobertura em cenários densos — que aparecem na evolução do 802.11be e em materiais de referência do grupo 802.11. Isto tudo complementam a ambição do Wi-Fi 7 de tirar mais proveito do ambiente com muitos pontos de acesso.
E o papel do 6 GHz e do AFC?
Outra peça do quebra-cabeça é a banda 6 GHz, liberada em diversos países. Em alguns mercados, para operar com potência padrão (standard power) — especialmente ao ar livre — o Wi-Fi 7 depende de um sistema chamado AFC (Automated Frequency Coordination). O AFC consulta uma base de pontos de controle e autoriza canais e potências que evitem interferência com serviços já existentes no 6 GHz. Nos Estados Unidos e Canadá, por exemplo, o FCC-Federal Communications Commission aprovou sistemas AFC comerciais, habilitando essa operação de standard power sob coordenação automática. Na prática, isso amplia alcance e robustez em 6 GHz, principalmente em áreas externas. (fcc.gov, docs.fcc.gov, RCR Wireless News)
Pontos importantes para entender (e explicar para o time)
Em primeiro lugar, a questão da compatibilidade. Neste caso o Wi-Fi 7 preserva a convivência com dispositivos legados; ou seja, sua rede não colapsa por adicionar APs novos. Em segundo lugar, o benefício percebido, ou seja, os ganhos mais claros aparecem quando há muitos clientes simultâneos e aplicações sensíveis a atraso (chamadas de vídeo, jogos em nuvem, AR/VR, colaboração em tempo real). Em terceiro, a infra de apoio. Quanto mais você usar 6 GHz e MLO-Multi link Operation, mais faz sentido investir em cabos e switches que acompanhem a nova vazão (uplinks de 2,5/5/10 GbE e PoE adequado), e um bom planejamento de canais. Materiais de fabricantes mostram que 320 MHz, 4K-QAM, MLO, MRU e puncturing trabalham juntos para dar mais capacidade com menos espera. (Cisco)
Cenários típicos de aplicação do Wi Fi 7
Em escritórios e campus, o Wi-Fi 7 ajuda a estabilizar experiências de videoconferência e aplicações colaborativas em horários de pico, quando várias salas competem por recursos. Em educação e auditórios, traz fôlego para provas online, aulas híbridas e eventos com alta densidade. Em indústrias e varejo, adiciona confiabilidade para coletores, painéis, PDVs e aplicações de realidade aumentada. Em casas conectadas, reduz travamentos em streaming 4K/8K, jogos e dispositivos IoT que não param de crescer. A ideia fundamental é entregar menos jitter-variação irregular na chegada de pacotes de dados, o que causa inconsitências e atrasos. (Cisco)
Perguntas que geralmente surgem
"Preciso trocar tudo agora?" — Isto vai depender do objetivo. Se você convive com problemas de capacidade e latência hoje, especialmente com muitos clientes e tráfego de vídeo, planejar a adoção de APs-Access Point Wi-Fi 7 faz sentido, começando por áreas críticas. Se já migrou para Wi-Fi 6E e colhe benefícios do 6 GHz, a evolução para MLO-Multi Link Operation e banda de 320 MHz pode ser o próximo passo natural.
"Clientes antigos vão atrapalhar?" Sobre esta questão, entenda que os dispositivos Wi-Fi 5/6 continuam conectando normalmente; os ganhos mais fortes acontecem quando cliente e AP são do tipo Wi-Fi 7 e conseguem usar MLO e canais mais largos. (Cisco)
"Quais números devo usar no comitê?" — É bom evitar de prometer "velocidades de marketing". Melhor seria utilizar mensagens técnicas mais apropriadas como:
Uso de banda de até 320 MHz na frequência de 6 GHz, dobrando a largura em relação a 160 MHz.
Utilização de modulação 4K-QAM com ~20% de ganho teórico por símbolo versus 1024-QAM.
Uso do MLO agregando e alternando links para reduzir latência e desviar de interferência. (Cisco)
Considerações de projeto
Para ambientes densos, vale avaliar posicionamento de APs, capacidade do backbone e políticas de QoS-Quality of Service. E também checar a possibilidade de PoE-Power over Ethernet (transmite dados + energia) e uplinks-distribuição de sinais para IoT de multi-gigabit evitam gargalos. E, se o seu país habilita 6 GHz com AFC-Automated Frequency Coordination para potência padrão, entender o processo e requisitos do AFC ajuda a planejar coberturas externas com mais alcance. Essa camada regulatória não é só teoria. Nos EUA e Canadá, o AFC está operacional e aprovado pelo órgão regulador. (RCR Wireless News, fcc.gov)
Conclusão
O Wi-Fi 7 chega para fechar o tripé entre taxa, latência e previsibilidade. Ele não é só um "Wi-Fi mais rápido": é uma pilha de melhorias, que utiliza MLO-Multi link Operation, canais com banda de 320 MHz, modulação 4K-QAM, MRU-Multiple Resource Units e preamble puncturing que é a tecnologia do WiFi 7 que possibilita excluir partes de um canal sem fio que estão com interferências, aproveitando melhor o meio aéreo, mantendo a rede fluindo mesmo quando o ambiente está carregado. Com certificação da Wi-Fi Alliance ativa e a publicação oficial do 802.11be, a tecnologia está madura para projetos pilotos e rollouts direcionados (implementação gradual) especialmente onde o 6 GHz já é uma realidade. Para quem planeja os próximos 3 a 5 anos, o Wi-Fi 7 é a base para experiências sem fio mais consistentes e preparadas para colaboração, mídia rica e aplicativos interativos que exigem resposta rápida.
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